terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Descrição:

Por que gostava de algodão doce se achava boba demais para assuntos sérios. Empurrando tudo quanto era relevante pra debaixo do tapete construiu um mundinho particular onde nada de sórdido lhe atingiria. Quis acreditar que tudo poderia ser controlado, imunizado e ancorado com uma garrafa de champagne e uma insossa música de Piaff. Não via, mas sabia por puro insitinto de sobrevivência que a magia existia e apostou todas as fichas que não tinha nisso.  Admiradora insana da lua desejava apenas que ela estivesse lá para ouvir suas lamúrias. Sim, ela tinha lamúrias que nenhum mundinho particular autista conseguia impedir que existissem. Perdeu a conta de quantas vezes decidiu mudar e de quantas vezes descobriu que a essência é imutável. Imaginou desde sempre que escrever alivia dores e fez disso, e de uma gata, válvula de escape para seus rompantes de pseudo intelctualidade. A que conclusão chegou? Nenhuma. Concluir dá tanto trabalho e sempre tão desnecessário.

Milágrimas (Alice Ruiz)



Em caso de dor, ponha gelo, mude o corte de cabelo
mude como o modelo
vá ao cinema, dê um sorriso, ainda que amarelo
esqueça seu cotovelo
se amargo for já ter sido, troque já esse vestido
troque o padrão do tecido
saia do sério, deixe os critérios, siga todos os sentidos
faça fazer sentido
a cada mil lágrimas sai um milagre
caso de tristeza, vire a mesa, coma só a sobremesa
coma somente a cereja
jogue para cima, faça cena, cante as rimas de um poema
sofra apenas, viva apenas
sendo só fissura, ou loucura, quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena, reze um terço, caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada milágrimas sai um milagre
mas se, apesar de banal,
chorar for inevitável
sinta o gosto do sal, do sal, do sal
sinta o gosto do sal
gota a gota, uma a uma
duas, três, dez, cem, mil lágrimas
sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre
a cada milágrimas

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